quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A década mais importante de nosso tempo

Michel Maffesoli, que abrirá o seminário 1968: Revoltas e Pós-modernidade, no próximo dia 14, na Unisinos, é um sociólogo atento. Não que outros sociólogos de renome mundial não o sejam, como Edgar Morin, de quem também sou um leitor compulsivo, e outros tantos que poderia citar aqui. Mas o que me atrai em Maffesoli é que ele percorre um caminho, digamos, marginal à visão economicista do dado social.

Não que o professor de Sociologia da Sorbonne, Paris V não se importe com isso. No entanto, não trata das questões econômicas da sociedade como se fossem determinantes e únicas. Teórico da Comunicação, ele parte de uma espécie de cesura entre a sociologia positivista, para a qual cada coisa é apenas um sintoma de uma outra coisa, e a Sociologia Compreensiva, “que descreve o vivido naquilo que é, contentando-se, assim, em discernir as visadas dos diferentes atores envolvidos”.

Em outras palavras, o que este autor propõe é que a Sociologia Compreensiva seja o que ele costuma chamar de a “sociologia do lado de dentro”. “O pensador”, afirma Maffesoli, “não se deve abstrair; é que ele faz parte daquilo que descreve e, situado no plano interno, é capaz de manifestar uma certa visão de dentro, uma in-tuição”. Na Sociologia Compreensiva, Maffesoli utiliza o formismo como metodologia, ou seja, a prática também utilizada por G. Simmel que estuda as formas da vida social. Maffesoli defende este recurso metodológico especialmente quando se pretende dar conta da força de estruturação da imagem de uma socialidade.

Em O conhecimento comum: Compêndio da sociologia compreensiva, ele pergunta o que é pertinente a um sociólogo se não “saber dar conta da riqueza do dado social, em perpétua ebulição”. Em vez de reduzir a questão ao que chama de “menor denominador comum”, Maffesoli prefere “compreender, em sentido estrito, estes entrecruzamentos de paixões e razões, de sentimentos e cálculos, de devaneios e ações que se chama sociedade”. Trata-se, portanto, de uma metodologia baseada na vida cotidiana, buscar apresentar as formas sociais como elas são. E para isso, é bom que se diga, não há um modelo pré-definido.


Cada forma tem a sua especificidade. Como o próprio nome desta teoria nos indica, a sociologia compreensiva está mais interessada em compreender do que explicar. Compreender o social é mostrá-lo como ele se apresenta e não como gostaríamos que fosse. É o fluxo natural de um rio que, uma vez desviado, transformará também sua forma. Por isso, a sociologia compreensiva, a partir do conhecimento comum, evita desviar os leitos dos rios, não estabelece um dever-ser ao objeto social justamente para não mudar seu curso. Ao refletir sobre o papel da comunicação nas sociedades atuais, onde “tudo é permeável”, o autor encontra no termo tribalismo uma forma de compreender essas sociedades.


Com Michel Maffesoli na Unisinos, talvez possamos compreender um pouco melhor a ebulição mundial de 1968, proposta por tribos que tentaram colocar na agenda mundial da época uma pauta que incluísse a paz, o amor e a liberdade. O anseio daquelas tribos não se confirmou na prática, como se viu. O mundo, sabemos, sempre entendeu muito pouco sobre paz, amor e liberdade. No entanto, o planeta nunca mais foi o mesmo depois de 68. Por certo, Maffesoli não tem todas as respostas. Mas poderá desvendar alguns dos mistérios da década mais importante de nosso tempo.



Foto: moutinho.planetaclix.pt/Copy_of_Andy_Warhol_r...

Indicação de leitura: MAFFESOLI, Michel. O conhecimento comum: Compêndio da sociologia compreensiva. São Paulo: Brasiliense, 1985.