quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Como é bom falar de jornalismo

Eu gosto de milhares de coisas nessa vida. Gosto do mar, do sol, do verão, de pegar minhas ondas. Gosto do inverno, do frio, de ficar bebendo vinho em frente à lareira. Gosto de ficar em casa com a minha mulher, com meu filho e meus cachorros. Gosto de futebol, do Internacional e até de assistir Vasco e ABC de Natal. Gosto de trabalhar, de fazer o que faço. Gosto de dar aula, de ensinar. Gosto de ler, de aprender e de estudar. Gosto de tocar conversa fiada com os amigos, das risadas de mesa de bar.

Mas quase nada das coisas que gosto fariam sentido se não gostasse da minha profissão. Adoro ser jornalista e trabalhar com jornalismo. É o que faço todos os dias desde 1991.
Por isso, falar de jornalismo pra mim é falar do mundo vibrante das palavras, do texto, da vida cotidiana, do imaginário, do registro dos fatos que nos anos seguintes servirá, certamente, como registro histórico.

Nessa semana tive uma das experiências mais marcantes da minha trajetória de jornalista, que nasceu na redação do NH, em Novo Hamburgo, passou pelo jornal Zero Hora, por Brasília, pelo jornalismo online, dezenas de viagens pelo Brasil e no Exterior e chega, neste momento, ao ensino de futuros jornalistas na Unisinos e na PUCRS. Na noite do dia 10 de novembro, compartilhei um debate rico e leve com o jornalista, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS, Juremir Machado da Silva, sobre um gênio do jornalismo mundial, Tom Wolfe.

Wolfe é o ilustre convidado do Fronteiras Braskem do Pensamento no dia 16 de novembro, na UFRGS. Por isso, fui convidado, junto com Juremir, para fazer uma espécie de apresentação do pensamento de Tom Wolfe a uma seleta plateia, muitos dos quais deverão estar na palestra do mestre do New Journalism. Minha participação neste evento se deveu, em grande medida, porque minha tese de doutorado na PUCRS é justamente sobre imaginário e ficção na reportagem, um mergulho no jornalismo literário, sob orientação cirúrgica do Juremir.

A criação do Novo Jornalismo mexeu com o jornalismo padrão que se fazia naqueles últimos anos da década de 50, começo dos 60. O jornalismo padrão, bege, segundo Tom Wolfe, cansava o leitor pela absoluta falta de criatividade, com textos sonolentos e óbvios. O jornalismo, na época, se preocupava em mostrar quem matou quem e onde. Mas quase nunca queria saber como e porquê o crime havia ocorrido. Esta era a senha para a produção de reportagens profundas, detalhistas. Esta era a senha para ir além, muito além do que os outros já tinham ido.

O Novo Jornalismo surgiu com um texto fortemente amparado em recursos da literatura, com descrições detalhadas das cenas, transcrição de diálogos, observação sobre o status do entrevistado (ou dos envolvidos com o assunto), como a roupa, o jeito, as expressões, o gesto, o cheiro e o ambiente em que os fatos ocorreram. A intenção era pegar o leitor pela mão e colocá-lo na cena do fato.

Com isso, o Novo Jornalismo conseguiu, com grande aceitação do público e uma boa dose de repúdio por parte dos romancistas, estabelecer um texto não-ficcional com a emoção típica dos romances. Grandes reportagens viraram livros geniais, como A Sangre Frio, de Truman Capote, Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe, Fama e Anonimato, de Gay Talese. Os romances de não-ficção mudaram completamente o jeito de fazer jornalismo.

Claro que no final das contas, o que vale é o texto. O que existe em jornalismo é texto ruim e texto bom. No Novo Jornalismo, isso fica latente. As virtudes e os defeitos saltam aos olhos do leitor. Por isso, quem se aventura no jornalismo literário precisa saber o que está fazendo. Não é um bicho de sete cabeças. Mas também não é um bicho de uma cabeça só.