sexta-feira, 24 de julho de 2009

Vale tudo

Cheguei a ficar emocionado com a notícia. Sério! A partir de agora, o povo brasileiro terá acesso à cultura. Anunciado com alarde pelo governo federal, o Vale-cultura promete colocar o pobre no cinema, no teatro, nos concertos, nas exposições de artes. O governo Lula vai bem. Encontrou na distribuição do vale o caminho das pedras. Depois do bolsa-família, a ideia é que os R$ 50,00 do VC sirvam como ferramenta de inclusão de trabalhadores de baixa renda no circuito cultural do país.

No lançamento do projeto, o presidente da República estava eufórico. Cheio de bom humor e largando as tradicionais piadinhas – foi o que li na edição online de O Globo em 23 de julho. Segundo a proposta, com este dinheiro o beneficiário poderá comprar ingressos para cinema, teatro, shows, livros, CDs (vale CD pirata?) e eventos culturais de toda ordem. Mas acho que ainda vai faltar grana para ver e ouvir Caetano Veloso, Maria Rita e outros nomes da MPB...

Sinto no ar um cheiro forte de aprovação da sociedade brasileira em relação à instituição do Vale-cultura – que ainda precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional, é bom que se diga – na rotina nacional. Ouço coisas do tipo “até que enfim pensaram na cultura”; “show de bola, o povo precisa de cultura”; “já estava na hora da inclusão cultural”. A verdade não existe, sabemos. A verdade é uma versão bem-sucedida sobre um fato. É um ponto de vista em relação a alguma coisa. É alguma coisa vista de um ponto de vista. Então, visto assim, por este ângulo, sim, devo concordar que a ideia é boa.

Eu disse ‘a ideia é boa’. A forma como esta ideia será colocada em prática é que são elas. Não concordo com o VC, assim como não concordo com o vale-transporte, o vale-refeição, o vale-alimentação, o vale-gás, o bolsa-família. A gente não quer só comida, seu presidente. A gente quer diversão e arte, sim, como dizem os Titãs. Mas queremos tudo isso com a dignidade do salário, presidente. O vale é indigno. Enquanto o brasileiro precisar de todos esses vales pra viver, presidente, o Brasil continuará sendo o país da esmola e do assistencialismo. Continuará sendo um país sem salário, um país do vale-tudo.