sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Com reflexão é melhor

Gosto de usar o twitter. Não há nada de especial nessa ferramenta, eu acho. Ela apenas faz circular informações entre pessoas que se conhecem – ou não. É coisa do tipo vapt-vupt. Pensou, colocou no ar, alguns leram e gostaram, outros e leram e ignoraram. De vez em quando surge uma conversa mais animada, mais crítica. Mas no geral, tudo é tratado assim, na superficialidade. Como manda a ferramenta, aliás. Não há como ser profundo o tempo todo com um espaço de 140 caracteres. E é aí que reside uma preocupação minha.

Não é uma preocupação daquelas que me tiram o sono. No entanto, como jornalista, gosto de textos mais profundos, mais detalhados, mais apurados. Não que a gente não consiga dizer algo em uma frase. Claro que conseguimos. Uma frase é uma ideia, apenas. E uma ideia precisa de um bom argumento que a suporte. Do contrário, não vai passar de uma boa frase, daquelas grafitadas em muros. Com 140 caracteres, não há ideia que se sustente por muito tempo.

Além disso, o hábito de usar a ferramenta acaba por acostumar o usuário – não usuários jurássicos como eu – a escrever pouco. Não me importo com a maioria. Mas me importo com os estudantes de jornalismo, por exemplo. Escrever é a essência da profissão. E escrever, para o jornalismo, não é jogar uma ideia em 140 caracteres. Escrever, para o jornalismo, é contar uma história que tenha começo, meio e fim, é orientar e informar o leitor, é fazer relações com outros fatos, comparações com outras épocas, é contextualizar aquela informação. Alguém já disse que a função do jornalismo é organizar o caos de informações que o mundo produz todos os dias. Não conseguimos fazer isso em 140 caracteres. No máximo, damos um pitaco, uma dica, uma sugestão, um elogio, uma crítica, um eu acho isso, acho aquilo.

Para resumir a reflexão que fiz até aqui, vou de 140 caracteres, então:

Uma ferramenta não substitui outra. Escrever em 140 caracteres tem lá o seu charme, sua velocidade útil. Mas escrever com reflexão é melhor.