quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Juro que eu me esforço

O verão é uma estação estranha para mim. Não que eu não goste de sol, mar, piscina, bebida gelada, surfe e pernas para o ar. Adoro. Aliás, até já morei na Praia do Rosa. Só que aqui, no extremo sul do país, o verão é uma época pitoresca e, em muitos casos, grotesca até. Estou me referindo ao clima que toma conta das cidades e principalmente das pessoas.

Porto Alegre, no verão, é uma capital civilizada, apesar do calor à la Senegal. Diminui o fluxo de carros, as filas são menores, há lugares sobrando nos restaurantes, bares e supermercados, as pessoas andam sem pressa e a chance de ser atropelado em algum corredor de shopping é quase zero. Por isso, a cidade melhora. É até paradoxal perceber que a cidade fica melhor quando grande parte das pessoas não está nela. Adoro Porto Alegre com pouca gente. Como é bom Porto Alegre quase sem habitantes. Sim, porque esses habitantes não estão aqui no verão. Eles vão para o litoral, especialmente. E, assim, transferem o inferno demográfico da capital para as praias.

Eu, que não entro no mar do Rio Grande do Sul há pelo menos duas décadas, sou daqueles poucos que na segunda-feira dizem, quase que com vergonha e constrangimento, que não fui à praia no final de semana. Quando digo isso, sou olhado com desconfiança. É que nesta época do ano, em Porto Alegre, é feio dizer que não fomos à praia no "findi". O chique, o bacana, é chegar na segunda-feira com cara de quem foi pra praia. Rosto avermelhado e corpo estressado com o tumulto, a ventania, a sujeira e os engarrafamentos. Chega a ser grotesco esta modinha provinciana de que temos de ir ao litoral nos finais de semana.

E mais grotesco ainda são as colunas sociais dos jornais gaúchos. Quando eu acho que vou me livrar dessas páginas no verão, pronto, lá estão elas contando onde anda aquela gente toda. Cristo, é de um provincianismo sem precedentes. Morro de rir com as legendas das fotos: “fulana de tal aproveita o sol em Bikíni, Punta del Este”. “Fulano de tal recebe os amigos em sua linda cobertura, em Punta”. “Fulaninha e fulaninho, lindos como sempre, curtem o calor em Atlântida”. Eu sei que tem muita gente que adora as páginas “sociais” dos jornais, até pela curiosidade de ver se alguém que a gente conhece aparece por ali. Compreendo. Mas eu, que entre outras coisas, me preocupo em ser um jornalista crítico do trabalho da mídia, quase não agüento. Eu me esforço, juro. Mas quase não agüento.

* Crônica publicada em http://www.gramadosite.com/ em 21/11/2007.

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