Não lembro, mas em algum momento eu já escrevi sobre o ranking dos melhores times do mundo feito pelo instituo alemão IFFHS. Por mais que eu me esforce, não há como levar a sério o tal ranking. O que me intriga é como a grande mídia embarca nessa canoa furada. Senão, vejamos.
Veículos da aldeia já repercutem em manchete que o Inter subiu no ranking do IFFHS. Pulou do 63º lugar em 2009 para o 35º. Uau! A mesma manchete diz que o colorado passou o Grêmio, tentando colocar uma pimenta de segunda na velha e surrada rivalidade gaúcha, O tricolor, que antes ocupava a 20ª posição, agora está na 43ª. O líder é o Barcelona, seguido por Estudiantes (Argentina) e Werder Bremen (Alemanha). Depois figuram Chelsea, Manchester United (ambos da Inglaterra), Cruzeiro (Brasil), Shaktar Donetsk (Ucrânia), Arsenal (Inglaterra), Roma (Itália) e Bayern de Munique (Alemanha). Esses são os 10 primeiros.
Alguém aí pode explicar as razões pelas quais Cruzeiro e Shaktar são o sexto e o sétimo melhores times do planeta? Alguém aí poderia dar uma forcinha e apontar os grandes feitos da Roma para ocupar a posição em que está? Mas isso não é nada. No quadro dos 10 melhores times do mundo até pode haver alguma margem para discussão e "achismos". Agora, me expliquem o que vem abaixo, por favor.
O que teria feito o Velez Sarsfield, da Argentina, para estar no 24º lugar do ranking da IFFHS, na frente de times insignificantes como Liverpool e Real Madrid? Por que o glorioso FC Basel, da Suíça (isso mesmo, da Suíça!), está na frente do frágil Milan, de Ronaldinho e Pato, da tradicional Juventus, e do Grêmio, por exemplo? Não sei quais são os critérios do tal ranking, mas que é difícil de engolir, isso é. Tire você mesmo as suas conclusões. Faça você mesmo a sua análise acessando www.iffhs.de. Garanto que você vai morrer de rir. Ou de chorar.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Qual a importância?
Eu sou um ouvinte de rádio. Não exatamente as músicas me interessam, mas as notícias. E dou grande importância ao noticiário esportivo. Especialmente ao futebol. Por um motivo muito simples: eu gosto de futebol. Fui repórter e editor de esportes há alguns anos. Acompanho jogos pela TV, leio jornais e revistas a respeito, acesso sites especializados diariamente e coisa e tal.
Mas confesso um constrangimento ao ouvir repórteres esportivos experientes repetindo perguntas medíocres, que remontam à década de 60. Agora mesmo, enquanto escrevo este texto, ouço um programa esportivo da Rádio Gaúcha que ostenta grande audiência. Só para situá-lo, caro leitor, no próximo domingo, dia 28 de fevereiro, o Grêmio decide o primeiro turno do dificílimo campeonato gaúcho.
O repórter da Gaúcha, então, começa sua participação no programa fazendo uma surrada, fora de moda e completamente desprovida de criatividade pergunta para um jogador do Grêmio: “Qual a importância de conquistar o título do primeiro turno do Gauchão?”
Meu Deus! Quanto tempo será que o repórter levou para elaborar essa pergunta? Além de ser uma repetição inaceitável de uma pergunta infantil, um questionamento como esse é, no mínimo, um menosprezo à inteligência do ouvinte. Pense comigo, leitor. O que responderá o jogador ao ouvir “Qual a importância de conquistar o título do primeiro turno do Gauchão?”
Será que ele responderá que não tem importância alguma conquistar o título? Ou será que ele dirá que vencer o primeiro turno é apenas mais uma taça, nada demais? Sinceramente, tenho refletido muito sobre o quanto de tempo dispenso do meu dia ouvindo perguntas inteligentes como essa. Começo a pensar, seriamente, em deixar de ouvir programas esportivos. Enquanto isso, vou ficar pensando qual a importância de um time de futebol conquistar um título, se a única razão de existir de uma equipe de futebol é levantar taças.
Mas confesso um constrangimento ao ouvir repórteres esportivos experientes repetindo perguntas medíocres, que remontam à década de 60. Agora mesmo, enquanto escrevo este texto, ouço um programa esportivo da Rádio Gaúcha que ostenta grande audiência. Só para situá-lo, caro leitor, no próximo domingo, dia 28 de fevereiro, o Grêmio decide o primeiro turno do dificílimo campeonato gaúcho.
O repórter da Gaúcha, então, começa sua participação no programa fazendo uma surrada, fora de moda e completamente desprovida de criatividade pergunta para um jogador do Grêmio: “Qual a importância de conquistar o título do primeiro turno do Gauchão?”
Meu Deus! Quanto tempo será que o repórter levou para elaborar essa pergunta? Além de ser uma repetição inaceitável de uma pergunta infantil, um questionamento como esse é, no mínimo, um menosprezo à inteligência do ouvinte. Pense comigo, leitor. O que responderá o jogador ao ouvir “Qual a importância de conquistar o título do primeiro turno do Gauchão?”
Será que ele responderá que não tem importância alguma conquistar o título? Ou será que ele dirá que vencer o primeiro turno é apenas mais uma taça, nada demais? Sinceramente, tenho refletido muito sobre o quanto de tempo dispenso do meu dia ouvindo perguntas inteligentes como essa. Começo a pensar, seriamente, em deixar de ouvir programas esportivos. Enquanto isso, vou ficar pensando qual a importância de um time de futebol conquistar um título, se a única razão de existir de uma equipe de futebol é levantar taças.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Imaginário e ficção na reportagem
O jornalismo literário parece caminhar sobre um fio de navalha que separa a essência do gênero – a apuração dos fatos do cotidiano e o registro mais aproximado da verdade – da literatura e do romance e sua construção artificial que, sequer, pode ser considerada uma representação da realidade. No país, a grande referência foi a Revista Realidade, que nos anos 60 e 70 tratava os textos ao melhor estilo do New Journalism de Norman Mailer, Truman Capote, Gay Talese e Tom Wolfe – embora muitos autores ressaltem que jornalismo literário nada tem a ver com o modelo.
Assim como as grandes reportagens dos ícones americanos, as reportagens da Realidade também eram marcadas pelo alto grau de observação e apuração jornalística, combinadas com fatos atuais e pitadas opinativas. A revista teve seu auge em 1968 e deixou de circular em 1976. Produziu grandes matérias que se aproximavam muito da literatura e tratavam de temas polêmicos e atuais da época, como o aborto, o feminismo, a Guerra do Vietnã. Este estilo de texto criou mitos na profissão, como José Hamilton Ribeiro e Joel Silveira.
O gênero literário na imprensa no cenário nacional encontra espaço hoje em poucas publicações impressas, como as revistas Piauí e Caros Amigos. O dilema quanto ao enquadramento das funções e limites do jornalismo literário nasceu com o Novo Jornalismo e ainda hoje se mantém: um texto que utiliza recursos ficcionais – próprios da literatura, do romance – pode ser considerado jornalismo? É desta linha tênue entre a ficção e a realidade na reportagem que este ensaio pretende colocar em discussão.
Existem requisitos básicos para que se possa enquadrar um texto no gênero jornalismo literário, segundo Vitor Necchi . Para este autor, é preciso, primeiro, esclarecer que “não se trata de jornalismo de literatura, uma vez que não se ocupa da literatura como objeto” . Em artigo, Necchi cita Matinas Suzuki Jr., autor do posfácio do livro Hiroshima:
Os especialistas exigem alguns requisitos para que uma obra possa ser classificada como jornalismo literário. Ela deve ser publicada em um jornal ou revista (a partir dos anos 80, com a diminuição crescente do espaço nos jornais e revistas, alguns autores passaram a publicar reportagens diretamente na forma de livro; no Brasil, essa foi a única maneira de o jornalismo literário sobreviver). Ela precisa estar ancorada em fatos. Sua matéria-prima é o trabalho de grande apuração: muitas entrevistas, muito bate-pé de repórter, pesquisa em arquivos, exaustiva investigação de fatos, levantamento de dados (SUZUKI JR. in HERSEY, 2002, p. 170).
Necchi lembra também que a adoção do jornalismo literário como modelo não é recorrente na imprensa brasileira, como pode revelar um olhar panorâmico sobre as práticas de reportagem efetuadas no país. “Orientações mais canônicas, em especial a que preconiza a objetividade a partir do modelo da pirâmide invertida para a construção de uma notícia, vigoram em especial desde os anos 1950”, afirma Necchi . Por outro lado, no primórdio deste século que se inicia, fala-se de maneira recorrente em jornalismo literário.
Embora este gênero se apóie firmemente nas técnicas do jornalismo, como a ancoragem em fatos e a apuração sofisticada de informações, o jornalismo literário é uma escrita que se utiliza de ferramentas da literatura. Ainda de acordo com Necchi, a partir disso, este modelo jornalístico se “propõe a instigar, seduzir, provocar sensações e despertar o interesse do leitor” .
O chamado jornalismo literário foge de olhares pré-formatados e rende textos – sejam reportagens ou perfis – que surpreendem a partir de uma pauta que rompe com visões óbvias ou hegemônicas sobre a realidade. Os autores, na hora de contar histórias não-ficcionais, principalmente nas páginas de revistas, valem-se de recursos típicos da literatura. Profunda observação, imersão na história a ser contada, fartura de detalhes e descrições, texto com traços autorais, reprodução de diálogos e uso de metáforas, digressões e fluxo de consciência – a gama de recursos é ampla para que a realidade seja expressa de maneira elaborada e sob os mais variados aspectos.
Felipe Pena vai além e diz que “o jornalista literário não ignora o que aprendeu no jornalismo diário nem joga suas narrativas no lixo” . Acrescenta o autor: “[...] os velhos e bons princípios da redação continuam extremamente importantes, como, por exemplo, a apuração rigorosa, a observação atenta, a abordagem ética e a capacidade de se expressar claramente” .
No entanto, o jornalismo literário não trabalha com a mesma lógica do hard news, ou seja, do jornalismo diário, da busca incessante pela melhor manchete e sempre pressionado pelo tempo. Esta regra é subvertida pela vertente literária. Este gênero também rompe com a tradição do lead, inventado nos Estados Unidos, e do enquadramento pelas seis perguntas básicas do texto na forma objetiva e direta: Quem/O que/Como/Onde/Quando/Por que. A escrita literária não tem uma fórmula pronta como exige o lead.
Ao contrário. Para Necchi, o jornalismo literário exige profunda observação, “imersão na história a ser contada, texto com traços autorais, reprodução de diálogos e uso de metáforas, digressões e fluxo de consciência – a gama de recursos é ampla para que a realidade seja expressa de maneira elaborada e sob os mais variados aspectos”. De tão liberto das amarras da objetividade do lead e do formato quase padrão, o jornalismo literário simplesmente desvia da impessoalidade, um dos principais pilares da estrutura da notícia.
E é aí que está o questionamento que tenho feito em minha pesquisa de doutorado. Até onde a reportagem (que trata de assuntos em conexão com a realidade) pode ir para conceder ao leitor o prazer de ler uma história real como se fosse ficção, invencionismo. Até onde o jornalismo, que vive de fatos reais, pode ser afetado com toques de fantasia?
Assim como as grandes reportagens dos ícones americanos, as reportagens da Realidade também eram marcadas pelo alto grau de observação e apuração jornalística, combinadas com fatos atuais e pitadas opinativas. A revista teve seu auge em 1968 e deixou de circular em 1976. Produziu grandes matérias que se aproximavam muito da literatura e tratavam de temas polêmicos e atuais da época, como o aborto, o feminismo, a Guerra do Vietnã. Este estilo de texto criou mitos na profissão, como José Hamilton Ribeiro e Joel Silveira.
O gênero literário na imprensa no cenário nacional encontra espaço hoje em poucas publicações impressas, como as revistas Piauí e Caros Amigos. O dilema quanto ao enquadramento das funções e limites do jornalismo literário nasceu com o Novo Jornalismo e ainda hoje se mantém: um texto que utiliza recursos ficcionais – próprios da literatura, do romance – pode ser considerado jornalismo? É desta linha tênue entre a ficção e a realidade na reportagem que este ensaio pretende colocar em discussão.
Existem requisitos básicos para que se possa enquadrar um texto no gênero jornalismo literário, segundo Vitor Necchi . Para este autor, é preciso, primeiro, esclarecer que “não se trata de jornalismo de literatura, uma vez que não se ocupa da literatura como objeto” . Em artigo, Necchi cita Matinas Suzuki Jr., autor do posfácio do livro Hiroshima:
Os especialistas exigem alguns requisitos para que uma obra possa ser classificada como jornalismo literário. Ela deve ser publicada em um jornal ou revista (a partir dos anos 80, com a diminuição crescente do espaço nos jornais e revistas, alguns autores passaram a publicar reportagens diretamente na forma de livro; no Brasil, essa foi a única maneira de o jornalismo literário sobreviver). Ela precisa estar ancorada em fatos. Sua matéria-prima é o trabalho de grande apuração: muitas entrevistas, muito bate-pé de repórter, pesquisa em arquivos, exaustiva investigação de fatos, levantamento de dados (SUZUKI JR. in HERSEY, 2002, p. 170).
Necchi lembra também que a adoção do jornalismo literário como modelo não é recorrente na imprensa brasileira, como pode revelar um olhar panorâmico sobre as práticas de reportagem efetuadas no país. “Orientações mais canônicas, em especial a que preconiza a objetividade a partir do modelo da pirâmide invertida para a construção de uma notícia, vigoram em especial desde os anos 1950”, afirma Necchi . Por outro lado, no primórdio deste século que se inicia, fala-se de maneira recorrente em jornalismo literário.
Embora este gênero se apóie firmemente nas técnicas do jornalismo, como a ancoragem em fatos e a apuração sofisticada de informações, o jornalismo literário é uma escrita que se utiliza de ferramentas da literatura. Ainda de acordo com Necchi, a partir disso, este modelo jornalístico se “propõe a instigar, seduzir, provocar sensações e despertar o interesse do leitor” .
O chamado jornalismo literário foge de olhares pré-formatados e rende textos – sejam reportagens ou perfis – que surpreendem a partir de uma pauta que rompe com visões óbvias ou hegemônicas sobre a realidade. Os autores, na hora de contar histórias não-ficcionais, principalmente nas páginas de revistas, valem-se de recursos típicos da literatura. Profunda observação, imersão na história a ser contada, fartura de detalhes e descrições, texto com traços autorais, reprodução de diálogos e uso de metáforas, digressões e fluxo de consciência – a gama de recursos é ampla para que a realidade seja expressa de maneira elaborada e sob os mais variados aspectos.
Felipe Pena vai além e diz que “o jornalista literário não ignora o que aprendeu no jornalismo diário nem joga suas narrativas no lixo” . Acrescenta o autor: “[...] os velhos e bons princípios da redação continuam extremamente importantes, como, por exemplo, a apuração rigorosa, a observação atenta, a abordagem ética e a capacidade de se expressar claramente” .
No entanto, o jornalismo literário não trabalha com a mesma lógica do hard news, ou seja, do jornalismo diário, da busca incessante pela melhor manchete e sempre pressionado pelo tempo. Esta regra é subvertida pela vertente literária. Este gênero também rompe com a tradição do lead, inventado nos Estados Unidos, e do enquadramento pelas seis perguntas básicas do texto na forma objetiva e direta: Quem/O que/Como/Onde/Quando/Por que. A escrita literária não tem uma fórmula pronta como exige o lead.
Ao contrário. Para Necchi, o jornalismo literário exige profunda observação, “imersão na história a ser contada, texto com traços autorais, reprodução de diálogos e uso de metáforas, digressões e fluxo de consciência – a gama de recursos é ampla para que a realidade seja expressa de maneira elaborada e sob os mais variados aspectos”. De tão liberto das amarras da objetividade do lead e do formato quase padrão, o jornalismo literário simplesmente desvia da impessoalidade, um dos principais pilares da estrutura da notícia.
E é aí que está o questionamento que tenho feito em minha pesquisa de doutorado. Até onde a reportagem (que trata de assuntos em conexão com a realidade) pode ir para conceder ao leitor o prazer de ler uma história real como se fosse ficção, invencionismo. Até onde o jornalismo, que vive de fatos reais, pode ser afetado com toques de fantasia?
domingo, 3 de janeiro de 2010
Grêmio, uma criança indefesa
Desde meados da primeira década do século XXI, quando o Inter de Fernando Carvalho e Muricy Ramalho mudou o rumo colorado a partir da interrupção da sequência de vitórias do Grêmio em Grenais, a imprensa gaúcha mudou o tratamento em relação aos principais times do Rio Grande do Sul. Em meados dos anos 90, o Grêmio era “o” time. Guerreiro, bravo, imbatível, com alma castelhada. O Inter, um clube desorganizado e fadado ao fracasso.
Na época do time de Felipe Scolari, eu mesmo acompanhei de perto aquela equipe e o clube. Era repórter de Zero Hora no Estádio Olímpico. Todos os dias, lá estava eu cobrindo a rotina do Grêmio. Em Porto Alegre, em outros Estados do Brasil, no Exterior. O Inter, de fato, era um clube perdido em todos os aspectos. No entanto, a imprensa da época cobrava menos do grande time do Grêmio do que do medíocre time do Inter. Se algo desse errado no caminho gremista, não tinha grandes problemas. A imprensa gaúcha tratava logo de passar a mão na cabeça do seu filho mais querido. No caso do Inter, não. Mesmo capenga e míope, a obrigação maior pelo sucesso era sempre do Inter.
A partir de 2005, com o vice-campeonato brasileiro – taça roubada pelo Corinthians, nas palavras do próprio presidente do clube paulista à época –, o Inter passou a se consolidar, de fato, como um clube mais forte, mais organizado e mais competente na armação de times e na produção e venda de novos talentos para o Exterior, tornado-o uma instituição de grande potencial econômico. Este potencial levou o colorado ao título da Libertadores da América e do Mundial de Clubes da Fifa, em 2006, da Recopa em 2007, da Sul-Americana em 2008, e aos vices da Copa do Brasil e do Brasileirão, em 2009. Na sala de troféus, o Inter tem todos os títulos possíveis de ser conquistados por um clube de futebol da primeira divisão. Ninguém, em sã consciência, quer uma taça erguida dos subterrâneos da bola. Hoje, o Inter é um clube rico. O Grêmio, um clube pobre. Orçamentos aprovados em conselhos deliberativos não significam quase nada. O que vale é o dinheiro em caixa e o volume de dívidas.
Mas o tratamento que a imprensa gaúcha dá aos principais times do Estado continua o mesmo. A temporada 2010 está apenas começando, mas já li e ouvi que a obrigação por título neste ano é toda do Inter. Eu disse TODA. Não ouvi nenhuma cobrança ao Grêmio. As justificativas oportunistas para este tratamento são sempre as mesmas: “A imprensa cobra de quem pode mais, de quem tem time melhor”. Balela. Papo furado. Pura retórica para fazer dormir os desavisados. Coisa de quem continua chamando de “fiasco” uma derrota do Inter e de “tropeço” uma derrota do Grêmio. Percebam nas manchetes dos jornais do Rio Grande: o Grêmio não perde. O Grêmio tropeça.
Neste ano, o Inter, para a grande imprensa, tem a obrigação de vencer a Libertadores da América. Mas o Grêmio, estranhamente, não tem a obrigação de conquistar a Copa do Brasil. Só o Inter é obrigado a ganhar.
Se o Grêmio não está obrigado a vencer nesta temporada – como parece que nunca esteve, aliás –, a sua diretoria poderia tratar de priorizar o campeonato metropolitano de bocha em vez de gastar milhões de reais na contratação de jogadores de futebol. Se o futebol não é mais uma obrigação do Grêmio, paguem as dívidas, fechem as portas do departamento de futebol e dediquem-se à bocha. E aí, sim, a imprensa gaúcha poderá, legitimamente, seguir cobrando apenas do Inter a responsabilidade por títulos de futebol. E continuará tratando o Grêmio como um clube que parou de crescer. Como uma criança indefesa.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Sonhos antigos, novos desejos
Eu sei que vou cair no clichê, mas não tem como chegar a poucas horas do fim de um ano e não tentar fazer uma reflexão. Não posso reclamar de 2009. Não estou me referindo apenas ao âmbito material, que também é muito importante. Trabalhos, lutamos, corremos eternamente atrás da máquina para alcançar objetivos na vida. E alguns são, sim, objetivos materiais. Mas não é disso que quero falar. Falo que 2009 foi um ano de grandes conquistas subjetivas.
Termino 2009 com a sensação do dever cumprido tanto do ponto de vista pessoal quanto do profissional. Neste último, apesar de todos os avanços que tive neste ano, sempre podemos crescer mais, surpreender um pouco mais. No campo pessoal, o cara que chega à virada do ano é um cara mais experiente - pode parecer óbvio, mas nem sempre amadurecemos como deveríamos de um ano para outro -, mais sensato e muito, mas muito mais centrado na minha casa, na minha família. Meu grande desafio em 2010 é justamente equalizar esses dois grandes campos do meu cotidiano: a vida profissional com a familiar. E vice-versa.
Eu tenho por hábito enfrentar desafios com alguma desenvoltura. Acabo me saindo bem. Então, o que desejo para mim mesmo é serenidade, equilíbrio, alegria, força de vontade, saúde, trabalho e luta para buscar realizações subjetivas, outras tantas materiais, necessárias para o bom andamento da rotina. Quero consolidar conquistas, concretizar sonhos antigos, inventar novos desejos. Que vocês também consigam suas vitórias em 2010.
Termino 2009 com a sensação do dever cumprido tanto do ponto de vista pessoal quanto do profissional. Neste último, apesar de todos os avanços que tive neste ano, sempre podemos crescer mais, surpreender um pouco mais. No campo pessoal, o cara que chega à virada do ano é um cara mais experiente - pode parecer óbvio, mas nem sempre amadurecemos como deveríamos de um ano para outro -, mais sensato e muito, mas muito mais centrado na minha casa, na minha família. Meu grande desafio em 2010 é justamente equalizar esses dois grandes campos do meu cotidiano: a vida profissional com a familiar. E vice-versa.
Eu tenho por hábito enfrentar desafios com alguma desenvoltura. Acabo me saindo bem. Então, o que desejo para mim mesmo é serenidade, equilíbrio, alegria, força de vontade, saúde, trabalho e luta para buscar realizações subjetivas, outras tantas materiais, necessárias para o bom andamento da rotina. Quero consolidar conquistas, concretizar sonhos antigos, inventar novos desejos. Que vocês também consigam suas vitórias em 2010.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Como é bom falar de jornalismo
Eu gosto de milhares de coisas nessa vida. Gosto do mar, do sol, do verão, de pegar minhas ondas. Gosto do inverno, do frio, de ficar bebendo vinho em frente à lareira. Gosto de ficar em casa com a minha mulher, com meu filho e meus cachorros. Gosto de futebol, do Internacional e até de assistir Vasco e ABC de Natal. Gosto de trabalhar, de fazer o que faço. Gosto de dar aula, de ensinar. Gosto de ler, de aprender e de estudar. Gosto de tocar conversa fiada com os amigos, das risadas de mesa de bar.
Mas quase nada das coisas que gosto fariam sentido se não gostasse da minha profissão. Adoro ser jornalista e trabalhar com jornalismo. É o que faço todos os dias desde 1991.
Por isso, falar de jornalismo pra mim é falar do mundo vibrante das palavras, do texto, da vida cotidiana, do imaginário, do registro dos fatos que nos anos seguintes servirá, certamente, como registro histórico.
Nessa semana tive uma das experiências mais marcantes da minha trajetória de jornalista, que nasceu na redação do NH, em Novo Hamburgo, passou pelo jornal Zero Hora, por Brasília, pelo jornalismo online, dezenas de viagens pelo Brasil e no Exterior e chega, neste momento, ao ensino de futuros jornalistas na Unisinos e na PUCRS. Na noite do dia 10 de novembro, compartilhei um debate rico e leve com o jornalista, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS, Juremir Machado da Silva, sobre um gênio do jornalismo mundial, Tom Wolfe.
Wolfe é o ilustre convidado do Fronteiras Braskem do Pensamento no dia 16 de novembro, na UFRGS. Por isso, fui convidado, junto com Juremir, para fazer uma espécie de apresentação do pensamento de Tom Wolfe a uma seleta plateia, muitos dos quais deverão estar na palestra do mestre do New Journalism. Minha participação neste evento se deveu, em grande medida, porque minha tese de doutorado na PUCRS é justamente sobre imaginário e ficção na reportagem, um mergulho no jornalismo literário, sob orientação cirúrgica do Juremir.
A criação do Novo Jornalismo mexeu com o jornalismo padrão que se fazia naqueles últimos anos da década de 50, começo dos 60. O jornalismo padrão, bege, segundo Tom Wolfe, cansava o leitor pela absoluta falta de criatividade, com textos sonolentos e óbvios. O jornalismo, na época, se preocupava em mostrar quem matou quem e onde. Mas quase nunca queria saber como e porquê o crime havia ocorrido. Esta era a senha para a produção de reportagens profundas, detalhistas. Esta era a senha para ir além, muito além do que os outros já tinham ido.
O Novo Jornalismo surgiu com um texto fortemente amparado em recursos da literatura, com descrições detalhadas das cenas, transcrição de diálogos, observação sobre o status do entrevistado (ou dos envolvidos com o assunto), como a roupa, o jeito, as expressões, o gesto, o cheiro e o ambiente em que os fatos ocorreram. A intenção era pegar o leitor pela mão e colocá-lo na cena do fato.
Com isso, o Novo Jornalismo conseguiu, com grande aceitação do público e uma boa dose de repúdio por parte dos romancistas, estabelecer um texto não-ficcional com a emoção típica dos romances. Grandes reportagens viraram livros geniais, como A Sangre Frio, de Truman Capote, Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe, Fama e Anonimato, de Gay Talese. Os romances de não-ficção mudaram completamente o jeito de fazer jornalismo.
Claro que no final das contas, o que vale é o texto. O que existe em jornalismo é texto ruim e texto bom. No Novo Jornalismo, isso fica latente. As virtudes e os defeitos saltam aos olhos do leitor. Por isso, quem se aventura no jornalismo literário precisa saber o que está fazendo. Não é um bicho de sete cabeças. Mas também não é um bicho de uma cabeça só.
Mas quase nada das coisas que gosto fariam sentido se não gostasse da minha profissão. Adoro ser jornalista e trabalhar com jornalismo. É o que faço todos os dias desde 1991.
Por isso, falar de jornalismo pra mim é falar do mundo vibrante das palavras, do texto, da vida cotidiana, do imaginário, do registro dos fatos que nos anos seguintes servirá, certamente, como registro histórico.
Nessa semana tive uma das experiências mais marcantes da minha trajetória de jornalista, que nasceu na redação do NH, em Novo Hamburgo, passou pelo jornal Zero Hora, por Brasília, pelo jornalismo online, dezenas de viagens pelo Brasil e no Exterior e chega, neste momento, ao ensino de futuros jornalistas na Unisinos e na PUCRS. Na noite do dia 10 de novembro, compartilhei um debate rico e leve com o jornalista, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS, Juremir Machado da Silva, sobre um gênio do jornalismo mundial, Tom Wolfe.
Wolfe é o ilustre convidado do Fronteiras Braskem do Pensamento no dia 16 de novembro, na UFRGS. Por isso, fui convidado, junto com Juremir, para fazer uma espécie de apresentação do pensamento de Tom Wolfe a uma seleta plateia, muitos dos quais deverão estar na palestra do mestre do New Journalism. Minha participação neste evento se deveu, em grande medida, porque minha tese de doutorado na PUCRS é justamente sobre imaginário e ficção na reportagem, um mergulho no jornalismo literário, sob orientação cirúrgica do Juremir.
A criação do Novo Jornalismo mexeu com o jornalismo padrão que se fazia naqueles últimos anos da década de 50, começo dos 60. O jornalismo padrão, bege, segundo Tom Wolfe, cansava o leitor pela absoluta falta de criatividade, com textos sonolentos e óbvios. O jornalismo, na época, se preocupava em mostrar quem matou quem e onde. Mas quase nunca queria saber como e porquê o crime havia ocorrido. Esta era a senha para a produção de reportagens profundas, detalhistas. Esta era a senha para ir além, muito além do que os outros já tinham ido.
O Novo Jornalismo surgiu com um texto fortemente amparado em recursos da literatura, com descrições detalhadas das cenas, transcrição de diálogos, observação sobre o status do entrevistado (ou dos envolvidos com o assunto), como a roupa, o jeito, as expressões, o gesto, o cheiro e o ambiente em que os fatos ocorreram. A intenção era pegar o leitor pela mão e colocá-lo na cena do fato.
Com isso, o Novo Jornalismo conseguiu, com grande aceitação do público e uma boa dose de repúdio por parte dos romancistas, estabelecer um texto não-ficcional com a emoção típica dos romances. Grandes reportagens viraram livros geniais, como A Sangre Frio, de Truman Capote, Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe, Fama e Anonimato, de Gay Talese. Os romances de não-ficção mudaram completamente o jeito de fazer jornalismo.
Claro que no final das contas, o que vale é o texto. O que existe em jornalismo é texto ruim e texto bom. No Novo Jornalismo, isso fica latente. As virtudes e os defeitos saltam aos olhos do leitor. Por isso, quem se aventura no jornalismo literário precisa saber o que está fazendo. Não é um bicho de sete cabeças. Mas também não é um bicho de uma cabeça só.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
O patrono da alegria
O patrono está feliz. Candidato ao cargo de patrono da 55ª Feira do Livro de Porto Alegre por cerca de uma década, o jornalista e escritor Carlos Urbim chegou lá este ano. Em um encontro restrito a amigos na noite de quarta-feira, 7, em um bar movimentado da Cidade Baixa, o guri daltônico de Santana do Livramento não escondeu o contentamento de ter sido eleito o personagem principal da maior festa cultural do Rio Grande do Sul.
Urbim é uma das pessoas mais pontuais que conheço. O encontro estava marcado para as 21h. Cheguei às 21h10min. Na frente do bar, o patrono. Em pé, de calça, camisa, blusão e tênis pretos e o inconfundível cabelo grisalho moldado levemente por gel, Urbim segurava um quase proibitivo cigarro na mão direita. Na esquerda, uma pequena sacola plástica com dois de seus últimos trabalhos de presente para mim (Zamprogna: a história da imigração italiana e a industrialização do Rio Grande do Sul, Via Norte, 2008) e para meu filho (Admissão ao Ginásio, Escritos, 2008). “Que bom te ver. Vamos entrar e fazer uma homenagem ao jornalismo rio-grandense”, disse, sorrindo, o autor de Saco de brinquedos, com a voz de trovão e entonação infanto-juvenil.
Membro desde o ano passado da Academia Rio-grandense de Letras, Carlos Urbim tem consciência de que sua eleição para patrono não deixa de ser uma espécie de oxigenação no restrito mundo das letras. “Eu escrevo livros infantis. Cheguei até aqui escrevendo para crianças. Isso é surpreendente”, observa, distribuindo com cuidado o molho de pimenta sobre o bolinho de bacalhau fumegante. A escolha de Urbim também representa a opção pela informalidade em meio ao universo conservador, formal e sisudo das academias de letras e das câmaras de livros. Urbim quer que a velha feira da Praça da Alfândega seja uma feira renovada por um patrono que representa a felicidade espontânea do público infantil.
Chegar a patrono da feira numa disputa com Airton Ortiz, Juremir Machado da Silva, Regina Zilberman e Luis Augusto Fischer deixaria qualquer um, de fato, orgulhoso. Mas Urbim não sente apenas orgulho. Ele tem gratidão. E muita. Por isso, quando tiver de fazer seu primeiro discurso na Praça da Alfândega, Urbim já avisou que a lista de agradecimentos será longa. “Vai ser uma lista telefônica. Não quero deixar ninguém de fora. Pretendo agradecer publicamente a todas as pessoas que trabalharam comigo nesses anos todos, inclusive muitos dos meus companheiros de redação. Sou escritor, mas sou jornalista. Eu me sinto um representante do jornalismo gaúcho neste momento”.
Antes do primeiro gole de uma gelada Pilsen uruguaia, erguemos o copo para o brinde. E Urbim soltou novamente o vozeirão. “Vou ser o patrono da alegria. Vou levar o sorriso à Praça da Alfândega”.
Urbim é uma das pessoas mais pontuais que conheço. O encontro estava marcado para as 21h. Cheguei às 21h10min. Na frente do bar, o patrono. Em pé, de calça, camisa, blusão e tênis pretos e o inconfundível cabelo grisalho moldado levemente por gel, Urbim segurava um quase proibitivo cigarro na mão direita. Na esquerda, uma pequena sacola plástica com dois de seus últimos trabalhos de presente para mim (Zamprogna: a história da imigração italiana e a industrialização do Rio Grande do Sul, Via Norte, 2008) e para meu filho (Admissão ao Ginásio, Escritos, 2008). “Que bom te ver. Vamos entrar e fazer uma homenagem ao jornalismo rio-grandense”, disse, sorrindo, o autor de Saco de brinquedos, com a voz de trovão e entonação infanto-juvenil.
Membro desde o ano passado da Academia Rio-grandense de Letras, Carlos Urbim tem consciência de que sua eleição para patrono não deixa de ser uma espécie de oxigenação no restrito mundo das letras. “Eu escrevo livros infantis. Cheguei até aqui escrevendo para crianças. Isso é surpreendente”, observa, distribuindo com cuidado o molho de pimenta sobre o bolinho de bacalhau fumegante. A escolha de Urbim também representa a opção pela informalidade em meio ao universo conservador, formal e sisudo das academias de letras e das câmaras de livros. Urbim quer que a velha feira da Praça da Alfândega seja uma feira renovada por um patrono que representa a felicidade espontânea do público infantil.
Chegar a patrono da feira numa disputa com Airton Ortiz, Juremir Machado da Silva, Regina Zilberman e Luis Augusto Fischer deixaria qualquer um, de fato, orgulhoso. Mas Urbim não sente apenas orgulho. Ele tem gratidão. E muita. Por isso, quando tiver de fazer seu primeiro discurso na Praça da Alfândega, Urbim já avisou que a lista de agradecimentos será longa. “Vai ser uma lista telefônica. Não quero deixar ninguém de fora. Pretendo agradecer publicamente a todas as pessoas que trabalharam comigo nesses anos todos, inclusive muitos dos meus companheiros de redação. Sou escritor, mas sou jornalista. Eu me sinto um representante do jornalismo gaúcho neste momento”.
Antes do primeiro gole de uma gelada Pilsen uruguaia, erguemos o copo para o brinde. E Urbim soltou novamente o vozeirão. “Vou ser o patrono da alegria. Vou levar o sorriso à Praça da Alfândega”.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Às vezes cansa
Estou cansado dos discursos do Lula, do Jornal Nacional, dos programas esportivos do rádio gaúcho, dos comentaristas tradicionais. Cansei dos jornais que assino. Estou cansado das novas velhas notícias das editorias de política, dos escândalos do Congresso, da vida fácil dos senadores, da corrupção nacional.
Estou cansado da rotina da mídia nacional, do Dunga e de sua seleção. Cansei da CBF e de seus interesses malandros e obscuros. Estou cansado da narração do Paulo Brito, da RBSTV, e do malabarismo circense do Galvão Bueno. Estou cansado de ver tanta bobagem no noticiário esportivo.
Estou cansado da poluição ambiental, da camada de ozônio, do CO2. Cansei do oportunismo ecológico e da conversa fiada em favor do verde. Estou cansado da discussão banal e leviana sobre o pré-sal. Estou cansado do pré-sal e do discurso ideológico que vem de brinde. Estou cansado do atraso social, econômico, educacional da América Latina. Cansei do papo-furado do Hugo Chávez e do Evo Morales. Cansei do bolsa-família e do vale-refeição.
Estou cansado do cinema nacional e dos filmes da TV aberta. Cansei das opiniões das celebridades, que sempre têm algo inteligente a dizer. Estou cansado do mundo fútil que gravita em torno do narcisismo televisivo e cinematográfico.
Não tenho Orkut, mas já cansei do Orkut. Tenho twitter, mas não uso. Estou cansado do celular que faz foto, que filma, que toca FM e que, surpreendentemente, também serve para falar com alguém. Estou cansado do controle remoto.
Meu cansaço é cíclico. Não é permanente. É que nem sempre estou disposto, nem sempre estou a fim de tudo o que o mundo me oferece ou me obriga a aceitar. Hoje estou cansado. Não há motivo especial algum, nada grave. É que às vezes, cansa. Só isso. Eu canso. Às vezes.
Estou cansado da rotina da mídia nacional, do Dunga e de sua seleção. Cansei da CBF e de seus interesses malandros e obscuros. Estou cansado da narração do Paulo Brito, da RBSTV, e do malabarismo circense do Galvão Bueno. Estou cansado de ver tanta bobagem no noticiário esportivo.
Estou cansado da poluição ambiental, da camada de ozônio, do CO2. Cansei do oportunismo ecológico e da conversa fiada em favor do verde. Estou cansado da discussão banal e leviana sobre o pré-sal. Estou cansado do pré-sal e do discurso ideológico que vem de brinde. Estou cansado do atraso social, econômico, educacional da América Latina. Cansei do papo-furado do Hugo Chávez e do Evo Morales. Cansei do bolsa-família e do vale-refeição.
Estou cansado do cinema nacional e dos filmes da TV aberta. Cansei das opiniões das celebridades, que sempre têm algo inteligente a dizer. Estou cansado do mundo fútil que gravita em torno do narcisismo televisivo e cinematográfico.
Não tenho Orkut, mas já cansei do Orkut. Tenho twitter, mas não uso. Estou cansado do celular que faz foto, que filma, que toca FM e que, surpreendentemente, também serve para falar com alguém. Estou cansado do controle remoto.
Meu cansaço é cíclico. Não é permanente. É que nem sempre estou disposto, nem sempre estou a fim de tudo o que o mundo me oferece ou me obriga a aceitar. Hoje estou cansado. Não há motivo especial algum, nada grave. É que às vezes, cansa. Só isso. Eu canso. Às vezes.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Vale tudo
Cheguei a ficar emocionado com a notícia. Sério! A partir de agora, o povo brasileiro terá acesso à cultura. Anunciado com alarde pelo governo federal, o Vale-cultura promete colocar o pobre no cinema, no teatro, nos concertos, nas exposições de artes. O governo Lula vai bem. Encontrou na distribuição do vale o caminho das pedras. Depois do bolsa-família, a ideia é que os R$ 50,00 do VC sirvam como ferramenta de inclusão de trabalhadores de baixa renda no circuito cultural do país.
No lançamento do projeto, o presidente da República estava eufórico. Cheio de bom humor e largando as tradicionais piadinhas – foi o que li na edição online de O Globo em 23 de julho. Segundo a proposta, com este dinheiro o beneficiário poderá comprar ingressos para cinema, teatro, shows, livros, CDs (vale CD pirata?) e eventos culturais de toda ordem. Mas acho que ainda vai faltar grana para ver e ouvir Caetano Veloso, Maria Rita e outros nomes da MPB...
Sinto no ar um cheiro forte de aprovação da sociedade brasileira em relação à instituição do Vale-cultura – que ainda precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional, é bom que se diga – na rotina nacional. Ouço coisas do tipo “até que enfim pensaram na cultura”; “show de bola, o povo precisa de cultura”; “já estava na hora da inclusão cultural”. A verdade não existe, sabemos. A verdade é uma versão bem-sucedida sobre um fato. É um ponto de vista em relação a alguma coisa. É alguma coisa vista de um ponto de vista. Então, visto assim, por este ângulo, sim, devo concordar que a ideia é boa.
Eu disse ‘a ideia é boa’. A forma como esta ideia será colocada em prática é que são elas. Não concordo com o VC, assim como não concordo com o vale-transporte, o vale-refeição, o vale-alimentação, o vale-gás, o bolsa-família. A gente não quer só comida, seu presidente. A gente quer diversão e arte, sim, como dizem os Titãs. Mas queremos tudo isso com a dignidade do salário, presidente. O vale é indigno. Enquanto o brasileiro precisar de todos esses vales pra viver, presidente, o Brasil continuará sendo o país da esmola e do assistencialismo. Continuará sendo um país sem salário, um país do vale-tudo.
No lançamento do projeto, o presidente da República estava eufórico. Cheio de bom humor e largando as tradicionais piadinhas – foi o que li na edição online de O Globo em 23 de julho. Segundo a proposta, com este dinheiro o beneficiário poderá comprar ingressos para cinema, teatro, shows, livros, CDs (vale CD pirata?) e eventos culturais de toda ordem. Mas acho que ainda vai faltar grana para ver e ouvir Caetano Veloso, Maria Rita e outros nomes da MPB...
Sinto no ar um cheiro forte de aprovação da sociedade brasileira em relação à instituição do Vale-cultura – que ainda precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional, é bom que se diga – na rotina nacional. Ouço coisas do tipo “até que enfim pensaram na cultura”; “show de bola, o povo precisa de cultura”; “já estava na hora da inclusão cultural”. A verdade não existe, sabemos. A verdade é uma versão bem-sucedida sobre um fato. É um ponto de vista em relação a alguma coisa. É alguma coisa vista de um ponto de vista. Então, visto assim, por este ângulo, sim, devo concordar que a ideia é boa.
Eu disse ‘a ideia é boa’. A forma como esta ideia será colocada em prática é que são elas. Não concordo com o VC, assim como não concordo com o vale-transporte, o vale-refeição, o vale-alimentação, o vale-gás, o bolsa-família. A gente não quer só comida, seu presidente. A gente quer diversão e arte, sim, como dizem os Titãs. Mas queremos tudo isso com a dignidade do salário, presidente. O vale é indigno. Enquanto o brasileiro precisar de todos esses vales pra viver, presidente, o Brasil continuará sendo o país da esmola e do assistencialismo. Continuará sendo um país sem salário, um país do vale-tudo.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Vida de ministro
Uma grande curiosidade toma conta de mim neste momento. O que o nobre ministro Gilmar Mendes faz nas horas vagas? O que faz um homem tão culto, letrado, depois que tira o peso da toga dos ombros ao final de sua, imagino, árdua labuta diária? Será que Mendes faz um happy hour com os amigos ministros? Será que ele tem amigos? Será que toma um chopinho, come churrasquinho no espeto – daqueles vendidos em estacionamentos de muitos supermercados de Brasília? Será que ele assiste a alguma partida de futebol na TV? Será que ele curte uma novela? Será que ele gosta da Norminha em cena?
Gostaria de saber como é a rotina de um homem tão nobre e poderoso. Como ele se veste em um sábado pela manhã, sem os compromissos tão exaustivos de ministro do Supremo? Será que ele veste bermuda de sarja e camisa pólo? Bem, disso eu não tenho dúvida. Gente da estirpe de Mendes, nobres da corte, sempre vestem bermuda de sarja e camisa pólo. Assim eles se acham descontraídos e elegantes ao mesmo tempo. Ficam, digamos, brega-chiques. Será que o ministro que admira cozinheiros sabe cozinhar? Será que ele reúne amigos para uma paella preparada por ele mesmo? Nossa, imaginem ser servido pelo todo-poderoso do STF... Que luxo, diria um amigo meu.
Essas perguntas rondam a minha cabeça desde que Gilmar Mendes se tornou o grande porta-voz de toga para declarar que o diploma de jornalista não precisa mais ser exigido para o exercício da profissão. Ao justificar seu voto a favor da martelada sobre o diploma, Mendes fez comparações tão infantis que me recuso a ordená-las aqui. Mas algo me chama a atenção. Ao comparar a necessidade de diploma para o exercício do jornalismo com a atividade de um cozinheiro, fiquei preocupado com o ministro. Por alguns instantes, deixei de me preocupar sobre como seria a vida banal e ordinária de Mendes. Passei a me preocupar com sua saúde! Será que nosso ministro está bem?
Será que ele está conseguindo fazer coisas mundanas, como julgar o futuro da profissão dos outros? Será que ele está mental e fisicamente saudável para compreender o que representa um diploma na vida de um universitário? Na vida de um jornalista formado, qualificado, capacitado, habilitado? Temo que não. Gilmar Mendes não parece bem. Dizem que ele sequer anda lendo jornais. Dizem que há dias não assiste a nenhum telejornal. Mas tudo isso pode ser fofoca de jornalista, intriga contra o pobre do ministro. Neste emaranhado de dúvidas que me atordoam, uma certeza eu tenho: Mendes pode até ter deixado de ler jornais, mas continua lendo a Veja. Religiosamente.
Gostaria de saber como é a rotina de um homem tão nobre e poderoso. Como ele se veste em um sábado pela manhã, sem os compromissos tão exaustivos de ministro do Supremo? Será que ele veste bermuda de sarja e camisa pólo? Bem, disso eu não tenho dúvida. Gente da estirpe de Mendes, nobres da corte, sempre vestem bermuda de sarja e camisa pólo. Assim eles se acham descontraídos e elegantes ao mesmo tempo. Ficam, digamos, brega-chiques. Será que o ministro que admira cozinheiros sabe cozinhar? Será que ele reúne amigos para uma paella preparada por ele mesmo? Nossa, imaginem ser servido pelo todo-poderoso do STF... Que luxo, diria um amigo meu.
Essas perguntas rondam a minha cabeça desde que Gilmar Mendes se tornou o grande porta-voz de toga para declarar que o diploma de jornalista não precisa mais ser exigido para o exercício da profissão. Ao justificar seu voto a favor da martelada sobre o diploma, Mendes fez comparações tão infantis que me recuso a ordená-las aqui. Mas algo me chama a atenção. Ao comparar a necessidade de diploma para o exercício do jornalismo com a atividade de um cozinheiro, fiquei preocupado com o ministro. Por alguns instantes, deixei de me preocupar sobre como seria a vida banal e ordinária de Mendes. Passei a me preocupar com sua saúde! Será que nosso ministro está bem?
Será que ele está conseguindo fazer coisas mundanas, como julgar o futuro da profissão dos outros? Será que ele está mental e fisicamente saudável para compreender o que representa um diploma na vida de um universitário? Na vida de um jornalista formado, qualificado, capacitado, habilitado? Temo que não. Gilmar Mendes não parece bem. Dizem que ele sequer anda lendo jornais. Dizem que há dias não assiste a nenhum telejornal. Mas tudo isso pode ser fofoca de jornalista, intriga contra o pobre do ministro. Neste emaranhado de dúvidas que me atordoam, uma certeza eu tenho: Mendes pode até ter deixado de ler jornais, mas continua lendo a Veja. Religiosamente.
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