segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Brasil não muda

O que está ruim sempre pode piorar. O ditado é tão velho quanto sábio. Neste caso, estou me referindo às novas regras da língua portuguesa, o tal Acordo Ortográfico, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro deste novo ano. Estabelecido em 1990 para padronizar a escrita em países que falam português (Brasil, Portugal, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste), agora professores, alunos, colégios, universidades e empresas jornalísticas tratam de se adequar ao novo modo de escrever.

Mesmo que no Brasil as mudanças não cheguem a 1% das palavras utilizadas pelos nativos destes trópicos, não vai ser nada fácil para quem já sabe escrever reaprender os novos caminhos do hífen, por exemplo. Assim, o prefeito recém-eleito está aliviado porque permanecerá como está, mas as meninas que gostam de usar minissaia serão obrigadas a retirar o antiquado hífen e duplicar o “s”. E tem mais.

No caos anual dos aeroportos brasileiros, agora o passageiro não enfrenta apenas atrasos. O acento circunflexo do voo também se perdeu. E não me perguntem de quem foi esta idéia (quero dizer, ideia) de tirar o acento agudo dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas.

Não sou contra mudanças. Elas não me assustam. Mas confesso que não vejo lá muita importância nesta unificação do português. Queremos unificar a escrita de uma língua cuja forma de falar seguirá a mesma em cada um dos países envolvidos. Será que os narradores brasileiros de futebol passarão a chamar a bola de “esférica”, como gritam os locutores de Portugal? Não, eles não farão isso. Por que, então, precisamos escrever como Portugal – e vice-versa – se não vamos falar do mesmo jeito?

Além disso, coisas que deveriam ser modificadas na escrita da nossa língua permanecerão da mesma maneira. O uso da crase é um exemplo disso. Alguém sabe me dizer qual é a utilidade da crase que tanto atormenta estudantes de todos os níveis Brasil afora? E o que dizer dos porquês? Tem o separado com acento, separado sem acento, junto com acento e junto sem acento! Cristo, isso é um preciosismo inexplicável...

Talvez seja por isso que o Brasil me parece, por vezes, um lugar desanimador. É um país que muda pouco quando deveria mudar tudo, como nas verbas astronômicas dedicadas aos nobres gabinetes políticos de Brasília e arredores ou nos altos impostos cobrados de cada um dos brasileiros anualmente. Impostos, aliás, que não voltam à sociedade em serviços públicos qualificados, é bom que se diga. O Brasil muda onde não precisa. E não muda onde é fundamental. Enfim, o Brasil não muda.

** Acesse www.portal3.com.br, site produzido por alunos de Jornalismo da Unisinos, para ler o Guia Prático sobre as mudanças na língua portuguesa.

2 comentários:

Anônimo disse...

é isso aí amiguinho!concordo em tamanho e conteúdo.ih será que tem acento.acho que os pseudo sábios ,da nossa pátria varonil;
pisaram na bola, ou como diz vc
pisou na esférica.minha mãe sempre dizia; o diabo tanto mexeu no olho do filho que furou.
é bom parar um pouco, deixar que cada país, ou lugar, lide à sua maneira, com suas línguas.afinal quem confundiu todas as línguas foi DEUS.e à sua maneira o fez muito bem.

JMD disse...

Pois é, Dona Tita. Agora vou ter que me cuidar para não pisar na esférica até me acostumar com as novas regras. Grande abraço e obrigado pela leitura.
Juan