Os políticos adoram dizer que o Brasil é um país democrático. Para eles, o Brasil é uma maravilha de democracia. Volta e meia, um desses engravatados elogia o “amadurecimento” do processo democrático do país. Lindo isso. Chego a ficar arrepiado quando ouço palavras tão sinceras. É óbvio que ao exaltarem a democracia verde-amarela, eles estão comparando o momento atual com a ditadura militar. Bem, neste paralelo, não há dúvida de que vivemos num país pra lá de democrático, vivemos num paraíso.
A mídia, que sofreu muito com a ditadura militar, também se derrete toda vez que os brasileiros vão às urnas escolher os “representantes do povo”. E é aí que eu quero chegar.
Jamais viveremos em um país democrático enquanto um cidadão for obrigado a votar.
Se existe uma coisa que não combina com democracia é voto obrigatório. Por que somos obrigados a isso? Por que? Costumo ouvir que é melhor ser obrigado a votar porque, do contrário, sabe-se lá que políticos serão eleitos.
Ora, por favor. Ninguém pode dizer que ficará melhor ou pior. Melhor? No Brasil, não é preciso muita coisa para que o Congresso Nacional, por exemplo, seja melhor. E também não precisa quase nada para que ele seja pior do que já é. Então, por que somos obrigados a comparecer às urnas para votar?
É claro que eu não espero que os políticos avancem no seu modo de pensar em relação a isso. Afinal, eles precisam de pessoas que votem. Do contrário, não serão eleitos. Por isso, a cada período eleitoral, eles exaltam “a força da democracia brasileira“. É uma afirmação em benefício próprio! A democracia não passa pelo voto obrigatório. O país de Barack Obama é o maior exemplo disso.
Se os políticos não avançam nesta questão, pelo menos a mídia deveria fazê-lo. Mas não faz. A mídia também se arvora nos períodos eleitorais, você sabe. No dia da votação, um dos maiores clichês da imprensa brasileira se repete: “Eleitores vão às urnas, na festa da democracia”. E manda matérias da "festa", mostrando jovens de 16 anos e pessoas de idade avançada, que não são obrigadas a votar, nas filas para darem "o exemplo de civismo e amor ao país”.
Também entendo a paixão da mídia por eleição. Das urnas saem políticos. E políticos trabalham em leis. E leis podem – e muito – beneficiar grupos de Comunicação Brasil afora.
Para os políticos e a mídia, a obrigação de votar é um ato democrático. Não é lindo isso? Nada mais livre do que ser obrigado a fazer alguma coisa, não é? Para eles, o povo precisa exercer a sua cidadania votando. Para mim, a cidadania deve ser exercida como eu acho que devo exercê-la. Como sou obrigado a ir à urna, chego à máquina de votar e anulo todas as opções. E saio de lá com a sensação de ter cumprido com o meu dever de cidadão.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
8 comentários:
juan!
a culpa não é dos políticos.
quem tem que exercer a democracia,
é o povo.nosso povo é carente de tudo. quando se tem coragem,tudo fica mais fácil;mas como achar essa coragem,estamos sem forças para lutar pela libertação e da corrupção.estamos falidos de sentimentos, pensamentos,somos como bonecos,levados por nossos políticos.nos contentamos com o quase nada, e ainda assím somos felizes.mas a que preço.
continue ,a lutar por nós,seja
a nossa voz.só voces ,estudados,
que trabalham com a imprensa poderão fazer algo pelo povo.
quem sabe um dia,o sol brilhará com todo o seu esplendor em nossa
pátria .por certo haverá, homens dignos de receberem nossos votos.
grata
Voto obrigatório, serviço militar obrigatório... ah, as maravilhas de se viver em um país livre.
Queridos Tiago e minha amiga anônima. Muito obrigado pelas mensagens. O negócio é trocar idéias, percepções.
Abração,
Juan
Juan, ando lendo seus topicos e bom sabes quanto acho um bom professor. Leio timidamente os posts na tentativa de aprender alguma coisa em técnicas jornalisticas e algumas ideias sempre são bem-vindas.
Mas nesse tive que comentar. Faço a mesma coisa, vou as urnas e anulo todas opções. Transfiro a culpa de colocar um politico corrupto em quem vota neles. Assim e com criticas que faço em meu blog e ao longo da vida, creio que construo um país melhor, do que só me preocupar em 2 dias em outubro.
Abração, Flávio.
Querido Flávio. Que bom receber um comentário teu. Aparece aí de vez em quando.
Grande abraço e obrigado.
Juan
Discordo! Minha visão leiga sobre o tema vai na contramão. Acredito que se o voto deixa de ser obrigatório, conseqüêntemente, poderá se tornar moeda. Os políticos estarão mais empenhados em convencer as pessoas a votarem, irão prever o número de votos e saber quem foi as urnas e quem não foi. Tomo como exemplo o caso no Rio de Janeiro, onde candidatos/criminosos estavam coagindo os moradores das favelas a votar, a volta do voto à cabresto. Ainda temos a opção de anular nossos votos, o que não significa votar em branco. Claro que isso é pessoal, cada um decide o que fará com seu voto, mas é uma alternativa e garante o anonimato.
Tamires, obrigado pelo comentário. Valeu!
Postar um comentário